quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mito da caverna

Vendo difusa a sombra ofuscada na caverna,
Não reconhece o que há de vir e quem a espera...

Ela vislumbra num teatro fosco,
Escuro, ilusório e tosco
Movimentos refletidos nas sombras
Dos vultos de atrizes medonhas
Dançando loucas e tristonhas
Meras cópias da matriz platônica
Duma ébria percepção errônea
Dirigida por um Deus semimorto
Regendo uma orquestra no horto!

Ela olha tudo pelo buraco negro das trevas,
Mas prefere a loucura, a ser cega...

E aceitaria todas as consequências,
Para ver sobressaindo à coexistência
Pois perdida no mundo das ideias
Observando confusa na plateia
Hamlet apaixonado por Nicéia
E Baco amante casto de Ofélia
Ela precisa se libertar dessa caverna
Pra confirmar que a humanidade é uma doença
E o ser humano um estado crítico de demência!

Mas novamente obtusa e confusa ela se entrega, 
Vendo um novo rosto abstrato surgir em meio à névoa...

Tatiane Sales

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Si plang, de Alex Atveu



Yann Tiersen, La Valse d'Amélie (Piano version)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Vinte e nove versos

Respiro fundo facilmente num alívio macio e transcendente...
Sinto-me em paz comigo agora, pois nunca fui uma mera vã inópia.
Alegoria poética obstante, guardarei a poetisa por um instante,
Porque preciso escrever a cru sobre o meu âmago do cerne nu.
Preciso tudo agradecer pela índole do caráter a me valer,
Que em mordaz momento errado nunca deixa o meu espírito ser maculado.
Agradeço o meu nobre coração duma fidelidade de cão.
Na vida sempre fui verdadeira deixando-me nítida como clareira,
Por mais estranho, excêntrico ou diferente que seja o meu jeito inerente.
Transbordo poesia de minh'alma, dum’arte e melancolia inata.
Tudo o que faço é ser eu mesma por melhor que eu seja, ou tola ou esma.
Sou tão Tatiane que sangro até nos pesadelos infandos,
No sentimento brando mais puro e no sofrimento desesperado escuro!
Nas minhas vontades nefandas e em minhas bondades mais santas...
Todos os dias sou transparente mesmo quando incongruente,
Como se o meu coração ficasse exposto pulsando o tempo todo,
E aberto no peito o coração mostro no dorso rasgado transposto!
Muitos olharam, mas não conseguiram ver e saber,
Poucos realmente sentaram e ouviram o que eu tinha a dizer,
Outros viram, mas tentaram me modificar, não me aceitaram.
Para alguns sou um livro aberto e para outros um grande mistério.
Posso dizer num olhar sincero tão profundo quanto um bolero que,
Estou aqui não há segredos nem tramas, só poesia, não dramas...
Sou mais simples do que pareço, nem todo o meu ser é complexo.
Tento somente ser uma boa moça a evoluir, como flor a fluir e florir...
Em minha complexidade perco-me, mas na simplicidade encontro-me.
Não é difícil entender toda essa ideia e a prover,
Quando você compreende e consegue conceber,
O que é estar na pele e ter um’alma etérea... de uma mulher.


Tatiane Sales

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sorte

Ah, jogo do privilégio...
A desigual e injusta benção
Que de caráter tão soberbo
Mais orgulhosa que a divina providência
Vem-me banhar com o seu brilho
Priorizar-me com o seu beijo?

Ah, libélula designada...
Pousa em mim predileção!
Vem soprar minha jogada
Deliberar dádiva luz?
Sobrevoar minha noitada
E me iluminar sorte, reluz...

Tatiane Sales

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O poeta está vivo


Baby compra o jornal
e vem ver o sol
Ele continua a brilhar,
apesar de tanta barbaridade
Baby escuta o galo cantar,
a aurora de nossos tempos
Não é hora de chorar,
amanheceu o pensamento
O poeta está vivo, com seus moinhos de vento
A impulsionar a grande roda da história
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo
Com seus moinhos de vento...
Se você não pode ser forte,
seja pelo menos humana
Quando o papa e seu rebanho chegar,
não tenha pena
Todo mundo é parecido, quando sente dor
Mas nu e só ao meio dia, só quem está pronto pro amor!
O poeta não morreu,
foi ao inferno e voltou
Conheceu os jardins do Éden
e nos contou
Mas quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
Que vai mudar o mundo
Com seus moinhos de vento...
(Frejat)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

E o nome dele era Gene Sprague!


A bela Golden Gate localizada em San Francisco Califórnia exerce em mim um fascínio quase que hipnótico.
A ponte, considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno, é mais sombria que um monumento gótico que vive vil romântica, alimentada pelos mortos!
Às vezes dá-me vontade de passear por sobre ela, caminho sórdido.
Quando eu era pequenina tinha vontade de voar saltando pelos degraus da escada, e lógico, compreendo o motivo de Gene intrigar-me tanto. Adoraria tê-lo conhecido, óbvio.
Rapaz muito branco, cabelo comprido e vestido de negro, que fez de sua sina, um salto breu de desespero.
E hoje te usam Gene, para prosas poéticas e roteiros. Quando vivia, não te davam um emprego módico!
Sinta o meu abraço de alento, escuta em seu ouvido suavemente minhas palavras de cálido lamento...
Desejo que você tenha encontrado paz em seu destino de sôfrego desterro mórbido, onde o vento tocando seu rosto e o impacto do gélido torvo fizeram em segundos o seu único velório.
Tatiane Sales