quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A palhaça...

Que saudade é essa, meu Deus?
Quando aprenderei a ser menos sincera?
Estou aprendendo nesta vida de quimeras,
Que a palhaça do amor sempre sou eu...

T. Sales
(...)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Diáfana das trevas

A vida cruel presente,
Noite que assola a mente,
Diáfana incongruente...

TS

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

E quanto a mim, quem me fará rir?

Numa visão otimista de ser a diferença que espero do mundo, vivo o vazio de nunca me surpreender.
Causo a alegria que ninguém me causa.
Olho absorto e tolerante, piedoso sobre a plateia. Eles suplicam um ínfimo conforto nos corações.
Altruísta que sou, caio, pulo, salto e, desgraçadamente me dou.
Eu espero por aquela que na imaginação criei. Criei para ter esperança e continuar. Aquela que veste um vestido azul rodado, um enorme sapato amarelo e um coração pintado no rosto. Aquela que admirará o meu nariz redondo e vermelho e me fará orgulhoso.
Como uma estrela linda brilhando ao longe, ela magicamente lança aos ares os seus malabares. Espero por ela que me fará sorrir...
Espero por aquela que em algum lugar vive sem mim.
Enquanto isso eu continuo vazio.
Um palhaço que o tempo todo sente no peito a tristeza lancinante de um coração sôfrego.
Espero por aquela que me fará rir...

Tati Sales
(Metáfora circense de um amor ideal)

...

domingo, 13 de novembro de 2011

Assombros sertanejos

É meia-noite e faz tempo...
Faz três horas que é meia-noite.
Lá fora o uivo dos ventos,
Aqui dentro o gemido da morte.

Será que é crueldade da sorte?

E está imóvel o ponteiro,
Corre um animal no palheiro,
E a viola soou um acorde...

Tocou sem nenhum violeiro!

Meu Deus do céu, isso é sina?
Rezarei um pai-nosso em surdina,
Pra espantar os demônios feios.

Deve ser a macumba da esquina!

O que é aquilo que passou na vidraça?
É o fantasma da amortalhada,
Que está grávida duma menina,

E as duas choram na estrada!

Não há nesta casa uma vela?
Pr'acender e iluminar essa treva,
Ai meu Cristo escutei uma risada!

E veio lá da encruzilhada!

Deve ser o preto que gira,
Acenderei um incenso de mirra,
Valha-me Deus, que isso é nada...

Foi só uma impressão danada!

Mais um copo quebrou na cozinha?
Ai que estou nesta casa sozinha,
Soltaram as almas na madrugada!

Bem que minha mãe me dizia,

Olhando ao redor de soslaio...
Quando caia com a chuva, os raios,
Reza antes de dormir minha menina...

Estou hoje pagando os pecados!

Eu, nada rezava e mentia,
Quando ela me indagava de dia,
Varrendo os quebrados dos cacos,

Rezei minha mãe com maestria!

Agora quem pena sou eu,
Fazendo sinal da cruz aqui no breu,
Com devoção e idolatria...

Só pode ser bruxa de magia!

Que luz verde é essa no céu?
Um trenó de papai Noel?
Parece um sonho de fantasia,

É disco-voador, santa Maria!

Deixando sinais no milharal,
Estão rentes ao matagal,
Sai de retro que esta casa é vazia!

Alguém recolhe as roupas do varal?

E ele olha pra mim com maldade,
Outro vulto parado no portão,
Observa-me com olhar de piedade...

Isso é pior que sal com limão!

Fechei na vidraça a cortina,
Deve ser outro feitiço da Tina,
A suicida do porão...

E ela gemeu com sofreguidão...

Mulher, vá descansar em paz,
Que te prende aqui, satanás?
Deus te valha que ele é imensidão!

Não tem nada maior que Deus não!

Onde está o terço de prata,
E os unguentos santos da mata,
Pra espantar esse cão?

É agora que invado o porão!

Mas no canto uma menina chora,
É Tina, a suicida da escola,
E suas lágrimas transbordam no chão:

Só quero ter paz no coração...

Tina diz tão triste essa frase,
Mas justo nessa hora o sol nasce,
Sem ter dado comunicação;

Tina desaparece num enlace

E tudo se ilumina, é verão...

Tatiane Sales

sábado, 12 de novembro de 2011

Dissipação

Eu só quero asas negras p'ra voar na noite,
E subir tanto a ponto de pousar na estrela.
Nebulosamente me dissolver na morte,
E aliviar minh'alma como um vento em vela.


Se a alegria é um sonho e eu não posso tê-la,
Mi'a vida me machuca como um cruel açoite.
Se o corpo é frívola poeira cósmica na esfera,
Morte, vem-me libertar a alma com sua foice?


Tatiane Sales

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ainda bem que existe a arte...

Vivo nos teatros e sinfonias. Vício!
Recorro à arte como uma dependência em crack.
Ontem precisei deliberadamente ir ao circo,
Hoje leio outro do Gabriel Garcia Marques.

Oh céus, não! Cem anos de solidão...
Soa-me o título agora como uma maldição!
O que será de m’ia vida preenchendo lacunas?
Buscarei respostas na obra de Alexandre Dumas.

Tati Sales
(Oh!)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Humildade

Que sensação é esta?
Que tendo perdido tudo,
Estando perdida no mundo,
Amaldiçoando a promessa,

Quando tudo o que sente é dor

E o mais ameno dos sentimentos
Que vive e grita no peito por dentro
É um terrível desespero interior!

Como explicar a sensação

Dum'alma imersa à lama
Pisada e jogada no chão
Nua num inferno em chamas...

Sem ninguém p'ra segurar a mão,

Pegando fogo na chuva
De quão gelado tornou-se o coração
Co'a paisagem nefasta e turva?

Sensação tenebrosa e maldita, 

Violenta, tirana, fascista,
Que machuca, maltrata e tortura,
Até que chega a beirar à loucura!

E no fim quando nada mais sobra,

Rastejando-se feito cobra,
Desgraçadamente humilhada,
Falida e desesperada...

Vendo que tudo se tornou nada,

Percebe que o limite chegou
E o choro torna-se gargalhada,
Pois a dor já ultrapassou...

Essa é a sensação dum louvor

De descer ao inferno e queimar,
Pedir o pão que o diabo amassou
Depois que nada mais restar.

Ser humilhada por si mesma,

P'ra aprender a ser pequena
E ser tocada pela humildade
Implorando à luz suprema!

Essa é a sensação da liberdade

De ser pisada como um cão torto,
Feito um gado apanhar com maldade 
Na sua ilíada ao matadouro...

Essa é a divina sensação

Da gloriosa superação,
De dor que agora não mais dói,
Do ácido que na pele não corrói.

Dum alívio quando a queda cessou,

Quando se sabe que no fundo chegou.
É tanta dor que se torna iluminação,
Fogo que restaura como purificação,

Lâmina que fere p'ra marcar,

Açoite que bate p'ra ensinar,
Força que nasce da lamentação
E extingue o ego, dor de libertação...

Tatiane Sales