sábado, 25 de junho de 2011

Noite

Eu queria escrever palavras belas,
Mas não saem alegrias dessas sombras.
A melancolia bloqueia meus sentidos,
Somente o dia criaria versos lívidos.

Pactuando com a noite sem estrelas,
Onde a escuridão malogra uma esperança,
Frondosas árvores como almas em ramagens,
Assombrosas salientam as paisagens.

Se eu entonar uma voz que vem de dentro,
E recitar decálogos de um Santo,
Ou declamar poemas de invento,
A Noite ufanaria o meu pranto?

Na varanda, só, contemplo o vasto
Onde a escuridão dispersa os simulacros.
Tudo é nada, neste vão íngreme quadro
De escuridão como um espectro ao meu lado...

Se eu proferir em alta voz, bradar um canto!
E exprimir todo o sentido dessa Noite?
Se eu usurpar os seus segredos, formar versos
E confessar aos quatro ventos seus mistérios?

Se eu for à rua e proclamar palavras soltas,
Reminiscências de uma atriz no palco, louca,
Os propínquos acordariam assustados?
A contestar o silêncio quebrado, exaltados?

A dama Noite o que faria em minha récita?
Teria pena ao consolar- me, pragmática ateia,
Ou aplaudiria atenta como uma lacônica plateia?
Mas não me movo a nada, atônita, sou inércia!

Ela observa de soslaio e me indaga
Por eu estar lúgubre, mais triste que a vaga.
Ela pergunta destas lágrimas que inunda,
Da dor precípua que em meu peito é tão profunda...

Noite obscura me encara com desprezo,
Pálida e fria respira em mim, um nevoeiro...
Não me arrepias, não percebes, dama informe?
Estou acordada, absorta, o medo dorme.

Tatiane Sales

(Minha poesia)

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