"Carta ao derradeiro
encontrada ao léu.
Volto para o início do inferno,
no final do céu..."
É difícil iniciar isto, entretanto é necessário que se faça...
Escrevo como forma de desabafo e também de despedida.
Estou dando-te fragmentos do que sinto, não sei se é errado ou certo, mas é a minha verdade e somente, agora. Espero que aceite.
Não poderei ver-te mais, seria tortura e já estou muito machucada. É injusto ser forte sem ser, é cruel comigo suportar para confortar-te, aguentar e fingir para agradar-te; sou um ser humano, não um super-herói.
Você sabe o motivo dessa carta. Estou oscilando meu humor entre Sartre e Shakespeare, naquela bipolaridade que você conhece, todavia optei, não quero ser nem sua Simone de Beauvoir nem sua Julieta.
Eu não quero mais ver-te, nem falar contigo e espero que você queira o mesmo, ou pelo menos consiga respeitar isso... E me respeitar ao menos uma vez. Não mais me procura.
Não estou nada bem, queria muito que você estivesse comigo de alguma forma e por isso tentei ser sua amiga sufocando minha dor, a mágoa. Todos os dias em que nos vemos você me decepciona mais. Sempre encarei seu comportamento como atos inconsequentes de um jovem rico e mimado, imaturo e perdido. Da última vez foi diferente, foi intencional, você "quis ser" vil.
Motivos você é inteligente o bastante e até mais para saber.
É impossível ser sua amiga, quando na verdade sou sua... Na última vez senti-me agredida de todas as formas que uma mulher poderia sentir-se. Maculada... Notei que você não respeita nem meu coração, nem meu corpo.
Vi que sou uma latina no oriente de sua vida.
É insustentável imaginar que você agora está com outra. Às vezes imagino-te sendo tocado e beijado, tocando e beijando, pensando em mim e amando-me em outra. Consequentemente, você se torna um vampiro maldito que suga toda minha alegria, meu ânimo, minha psicologia, minha filosofia, minha arte, tudo que sei, que sou e que amo para tentar compreender-te.
Percebi que sou muito mais do que a forma como você me trata. Não tenho que passar por essa difusão de veneno em minh'alma.
Espero que você tenha feito a escolha certa ao dar motivos e incitar minha despedida.
Não deu certo com aquele rapaz que te enciumei. Não temos nada em comum e por uma questão de escolha seria um grande erro começar algo que não daria certo somente para viver momentos... Admirar a beleza de alguém não é suficiente. Sei que ele é apenas mais um na infinidade de homens sacanas que me aparecem. Piegas, mas você causou-me a sensação de que homens não prestam. Talvez um dia a providência me mostre o contrário. O ser humano pode elevar-se à sua própria condição e superar-se.
Estou só e sei que permanecerei assim por um longo tempo, todavia agora sei do que preciso... E se não vier, apenas continuarei como sempre fiz antes de ti. Era vazio antes, apenas será mais vazio agora, mais vazio sem você. Já sinto a lacuna imensa, ou melhor, o abismo, o buraco negro no meu peito.
Ouço a chuva tão forte lá fora, mas é muito pior a tempestade que sinto dentro de mim e que transborda em forma de lágrimas pelos olhos que você conhece.
Não estou nada bem, sinto sua falta, contudo para eu conseguir ser sua amiga eu preciso matar o que sinto.
É preciso também que você me respeite e nunca mais me toque. Penso na poesia de Menott Del Picchia, sobre matar um amor doer tanto que parece que se vai matando um filho que estremece. "A gente quer que viva e vai matando aos poucos". Sobre o esquecimento ser o único remédio para curar uma paixão impossível, e esse remédio ser pior, doer mais que a própria doença.
Preciso passar por aquela transformação da águia. Esperar depois da dor e sacrifício que me nasça novas garras. Já não posso com essas...
Há momentos neste frio em que decaio e o que eu mais queria era ter você comigo... Abraçado em minha sinestesia, rindo e sentindo sua presença quente, sua existência macia, seu cheiro tão característico, inebriante.
Sem passado nem futuro... Apenas nós dois num mundo sem lembranças de erros, sem fantasmas da memória. Sem antes, sem depois para sempre.
E pensando nisso eu te amo...
Mas eu te odeio quando lembro do que você me causou. Traição culpa arrependimento, porém devo culpar ações de alguém tão imaturo? Devo eximi-lo?
Você não sabe o que é a vida. Você sabe amar, mas não sabe "como" amar. Seu amor é desordenado, desequilibrado. Devo justificá-lo?
Índole, escrúpulo e caráter vêm da maturidade ou da identidade?
Sei que odeio quem amo e amo quem odeio.
Não me procure mais, pois ainda sinto amor por você.
Ainda guardo atos e momentos bons, maravilhosos. Quero guardar em mim o que você tem de bom e antes que isso acabe devo afastar-me para eu não detestar-te! Não há como continuar nosso relacionamento intenso e confuso; Afastar-me-ei antes que se torne profundo.
A tristeza de ti que tenho que disfarçar e que não consigo mais suportar faz-me desistir.
Entendi o que é melhor e estarei bem longe... De você e tudo o que me corrompe. Não me procure mais, eu imploro! Não quero ver-te, nem ouvir sua voz, compreenda?
Eu te amo tanto e por isso peço para você não me telefonar. E por eu amar-te tanto assim é que te peço: Não me procure mais!
Estou chorando muito. Vou sentir muitas saudades. Já sinto muito sua falta e sei que isso não é nem o início!
Supere se você ainda sentir como eu também farei.
Seja forte e não jogue a responsabilidade dos seus atos sobre sua família. Quero acreditar que você será homem para suportar as consequências das suas ações, sem cometer outra insanidade punindo os outros pelos seus erros.
Sinto muito por eu não conseguir cumprir a promessa que fiz ao dizer-te que seria sua amiga, mas no momento em que você me fez voltar para ferir-me mais, eu não poderia por amor-próprio continuar... Não sou masoquista, muito menos sado para permitir-me. Não sou submissa, não sou tão forte assim para ficar, porém sou muito corajosa sim para partir.
Apesar de estar-te tirando de minha vida e sendo cruel contigo, minha consciência está tranquila. Foi você que estragou nosso relacionamento o contaminando. Primeiro o amoroso, o romântico. Depois o afetivo, nossa amizade. Eu te quis das duas formas, você não me respeitou em nenhuma.
Siga em frente, você tem muito talento com literatura, embora pervertido sadismo. Só cuidado ao lecionar. Educar é algo delicado, trata-se de formar e transformar pessoas. Mesclo em admirar-te e profanar-te. Não colocaria o futuro do mundo em suas mãos, mas você tem muito de válido a transmitir.
Busquei tantas coisas em ti nas entrelinhas... Volta para sua vida decadente e pervertida por opção.
E me esquece!
Esquece meu corpo, o toque de sua mão em meus cabelos, meu cheiro, meu cérebro, minha inteligência, minh'alma, meu coração dessa caixa de pandora aberta a você com todas as minhas bondades e demônios. Detalhe: Nessa caixa de pandora não restou esperança.
Eu aqui te matarei dentro do peito, como se abafa uma lagosta. Engolirei essa ilusão como um sapo grande e intragavelmente amargo.
Sinto por eu não conseguir ser mais forte, e ser sua amiga. Sinto também por eu não ter sido compreensiva o bastante para ser sua namorada. Ou impura o suficiente.
Percebo que sua motivação vem dessa perfeição insana sensorial que até acho atrativa e sedutora, mas que não me adequa. Creio que há também além do corpo, espírito. Não farei parte desse seu mundo por nada, nem por você. Sei que eu me perderia, sei que não teria volta. Você disse que sou uma rosa pura que você encontrou em meio à lama suja... O que eu, a rosa pura estava fazendo em meio à lama? O que fui lá fazer? Questiono então minha pureza.
Todavia dentro do que sou e posso ser, dentro de toda minh'arte e de todo o meu coração eu te amei e eu te amo... Daqui alguns anos a maturidade te encontrará e te fará entender coisas, que agora você não vê, que se eu falasse agora seria em vão. Sinto, pois já será tarde para nós. Tudo te será claro depois e quando elucidar-te, lembre-se de mim, meu querido e sorria...
Penso no destino e vem-me a seguinte dúvida: Se eu pudesse prever o desastre do nosso caso, se de repente voltasse eu ao passado e pudesse escolher em não conhecer-te ou sofrer, qual escolha eu faria? Há momentos que vivi contigo, que concluem. Valeu a pena! São os dois lados extremos opostos, pois se vivi o que havia de pior contigo, também vivi o que havia de melhor.
Valeu a pena... e dentro desse pensamento apesar de tudo, foi um prazer enorme conhecê-lo! Valeu cada momento bom com você vivido.
Viva e seja feliz naquela alegria que me foi sugada.
Por aqui farei o que posso...
Com toda a paixão que se pode sentir por alguém, mas também com toda a mágoa,
Agora não mais a sua, mas somente aquela,
Tati.
...
A Vitória Régia nasce do imerso lodo do lago.
...
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