quinta-feira, 10 de março de 2011

Das palavras

Lembrei-me de quando menina, de um dos primeiros livros que li "As coisas que a gente fala, de Ruth Rocha". Lembrei-me do momento que a leitura tomou-me por hábito, foi pouco depois da morte de minha mãe que comecei a ler, pois sentia eu sua falta e precisava ocupar-me em algo para distrair-me de sua ausência.
Lembrei-me do momento exato em que passei a amar rosas. Ela tinha uma roseira, cor-de-rosa. No dia de sua morte colhi uma rosa no jardim e fiquei segurando-a por todo o tempo. No velório uma tia tirou-me a rosa das mãozinhas e colocou-a nas mãos geladas de minha mãe, destacando a rosa em meio às margaridas brancas por sobre seu corpo sem vida. Talvez fosse nessa hora que uma alma triste de poetisa invadiu-me o corpo delicado e tomou-me o ser. 
Das palavras de Ruth Rocha, que desde pequena ensinara-me a pensar:

Depois que elas se espalham,
Por mais que a gente procure,
Por mais que a gente recolha,
Sempre fica uma palavra,
Voando como uma folha,
Caindo pelos quintais,
Pousando pelos telhados,
Entrando pelas janelas,
Pendurada nos beirais.

Por isso, quando falamos,
Temos de tomar cuidado.
Que as coisas que a gente fala
Vão voando, vão voando,
E ficam por todo lado.
E até mesmo modificam
O que era nosso recado.

Ruth Rocha cedo me ensinara o valor da palavra escrita e desde criança, uma lição sobre as palavras: Ter cautela ao falar, porque uma única frase mal (dita) pode ferir profundamente, magoar.

T.S

Nenhum comentário:

Postar um comentário