Estou tão calma...
Tudo se transformou em delicadeza. O afastar meus cabelos que caem aos olhos, os dedos femininos tocando o teclado levemente, o piano da música triste que ouço harmonizando com a chuva tímida que cai no quintal...
Sinto o cheiro das folhas nas árvores molhadas. Os meus olhos estão marejados contendo lágrimas que nunca explicariam o que sinto por dentro. Limito-me a uma xícara de leite quente com café solúvel, é tudo o que consigo agora.
Penso...
Neste momento estou em meu quarto, ultimamente tenho estado muito aqui neste pequeno mundo rosa e azul e, olhando ao redor vejo o necessário para sentir-me bem: Livros, músicas, filmes, papéis e caneta, as lembranças de sobre uma cama, um espelho, aconchego das almofadas, paz.
Há muito os vizinhos não vêem meu rosto, pois e se saio, já é noite.
Noite passada para assistir um filme, coloquei o colchão no chão repleto de cobertores macios e almofadas. Isso para o felino gato que existe dentro de mim sentir-se o mais confortável possível em sua sinestesia.
Dormi no chão...
É boa a sensação de que alguns passados foram superados, de que um alguém que agiu tão cruelmente e me fez sofrer tanto, foi superado. Sinto um sorriso no rosto. Sinto-me livre, respiro fundo de alívio, pois ao menos esse demônio já exorcizei há muito das minhas lembranças.
Agora sem saber o motivo certo, escuto o som de um violino ao longe e vejo mãos muito brancas o tocando. São outras lembranças... Não de um demônio, mas de um anjo.
Melhor esquecer...
O pensamento num passado trai, o pensamento no futuro assombra.
Será que existe apenas uma realidade certa para nós, ou existem milhões de realidades paralelas de acordo com nossas escolhas? Talvez o destino seja realmente a providência que cruza pessoas em nosso caminho, mas o livre arbítrio (que nos faz inteligentes ou o inverso) é que escolhe quem fica ou não em nossas vidas. Entretanto se a providência põe pessoas em nossas vidas, ela também não poderia tirar? Qual a diferença?
Pensando em destino, somos apenas marionetes para um roteiro. Pensando em livre arbítrio, somos esquecidos e jogados num universo à mercê de nós mesmos. A existência torna-se cruel nas duas ideias.
Filosofo...