sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Visão de um quarto em natureza morta

Flores arroxeadas
Folhas secas esbranquiçadas
Boneca encarquilhada
Poemas indefinidos.
Paredes descascadas
Roupas desgastadas
Fadas perturbadas
Coração partido.
Ilusão dilacerada
Livros empoeirados
Janelas embaçadas
Planos destruídos.
Cama desarrumada
Desacompanhada
Sem ninguém ao lado
Espaço vazio...
Há um anjo assustado
E no espelho quebrado
Um rosto pálido
Que perdeu o brio.
Se movimento entorta
Tudo em minha volta
Som desafinado
Sombra enlouquecida.
Desconfigurado
O que a tristeza molda
São desfiguradas
Face encanecida
Posições erradas
Cores ofuscadas
Que o passado toca
Como carta perdida...
Em meu olhar nublado
Tudo é desbotado
Formas desmontadas
Fotos esquecidas...
Quadros sós, calados
Tortos, pendurados
Natureza morta
Devolve-me a vida...?
Tatiane Sales

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Antiga

Tentando sobreviver numa era contemporânea
Um apólogo à boneca de porcelana
Do ano de 1.820 no atual tempo
Junto a livros empoeirados, tem movimento.

Amando... nobre ela canta, sofre e dança
Como a rosa azul de Novalis, rara
Branca a delicada face laqueada
Esmaltada a tez, perdendo a nuança...

Menina velha de palidez etérea
Recitando Shakespeare, solitária espera
Esquecida numa biblioteca clássica
Deserta e impoluta conservada há décadas!

A relíquia de louça guardada na estante
Ouvindo Mozart ou o flautista de Hamelin
Vinda da poesia de Lorca de las horas incertas
E apaixonada por Hamlet, o seu ideal de amante...

O sopro de alma nessa moça de pano
Que quando só, levanta a bailar chorando
Não está na loucura, na imaginação da artista
Que cria a boneca, mas também dá a vida...!

Ela existe, triste, respira e palpita
Pois tento dár ânimo à própria poetisa
A boneca sou eu no tempo perdida
Que em álacres anos já é tão antiga...

Tatiane Sales