sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ensejo de uma freira

Ser boa, ser
Seria ver
Jesus surgir
Da cruz sorrir.
Boa por quê?
E tentei crer
Que me punir
Torno-o mártir.
Por mais que tento
Mais eu lamento
Nunca pecar
É sofrimento!
Da existência
A desistência?
Jogado a esmo
O meu desejo,
Mas só um beijo
É um fraquejo?
E maculada
Fui condenada.
Já desvairada,
Já malograda,
Fugi do abade,
Fui pra cidade...
Desesperada!
Desventurada,
Um beijo apenas
É quase nada!
Eu quero mais,
Pudica jaz.
Eu vou tentar,
Isso é errar?
Quero saber
Como é viver,
Quero sentir,
Quero fundir!
Depois morrer...
Freira pra quê?
Fizeste a vida
Pra ser vivida,
Colher, plantar,
Não só olhar...
Deixa-me ser,
Deixa-me ter?
Eu quero amar,
Me apaixonar.
E se eu sofrer,
Paguei pra ver.
E pra clausura,
Pra sepultura
Não volto mais,
A ira sagaz
Me libertou!
Amaldiçoou.
A minha sina
É de felina,
Se, não menina...                                              
Sou Messalina?
Sou anormal
Por ser normal?
Ah, homens santos
Sob seus mantos
Queimem na chama
Tal bruxa dama!
Pseudo frades
Que só maldades
Vejo sangrando
Fingir rezando.
Traz a fogueira
Dessa maneira
Serei julgada
Como as coitadas,
Damas ousadas
Da inquisição
Que gritaram, não!
À submissão.
Não, não tenha pena!
Desta vil pequena.
Sou uma mulher
Que somente quer,
Tão somente quer,
Provar o prazer
De o vinho beber
E dos beijos colher...
Como você também quer.
Tatiane Sales.
(Minha poesia ao autoritarismo machista que ainda existe)
...

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