segunda-feira, 4 de abril de 2011

A rotina

Não importa o quanto você queira que a noite dure; vai amanhecer.
Não importa o quanto você queira que aquela viagem nunca termine, para você permanecer ao lado dele no carro, como se no mundo existissem apenas vocês dois; vocês chegarão ao destino.
O filme acabará desatando naturalmente o abraço
que naturalmente formou-se.
Willie Dickson tocará a última música na vitrola, e o blues se tornará o som da agulha arranhando o disco.
E quando você estiver sendo enfim sincera, e conseguindo transmitir o que de melhor há em você, notará que tomaram a última taça daquela garrafa de vinho italiano, que só seria aberta numa ocasião especial.
O fim da noite de domingo se unirá à segunda-feira, e você não vai querer ir embora, iludida de que nada mais importa se os dois estiverem juntos. Você ficará, e ficar será então o grande erro!
Para não perder o encanto, temos que saber o momento certo de partir, para num retorno inebriado pela saudade, continuar a descobrir aos poucos o que ficou incógnito nas entrelinhas, sem deixar a banalidade real estragar o ébrio encantador da paixão.
Em seus primeiros encontros aconselho a ir embora no domingo à noite mesmo, e não segunda-feira pela manhã (lúdico?). É melhor prorrogar o existencialismo para o casamento, e mesmo assim, a total intimidade num casal pode ser perigosa. A rotina pode desencantar qualquer conto de fadas.

Tatiane Sales
(Minha prosa)

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