segunda-feira, 4 de junho de 2012

Solitude (saudade da mãe)

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É domingo à noite já caminhando para segunda-feira.
Há algo mais melancólico do que este momento?
É triste a insônia dessa transição.
Chego à conclusão de que mais um dia passou sem sentido algum, todavia cada letra a mais nesta página preenche-me um pouco o vazio. Penso numa imaginária e arcaica folha de papel em branco a ser preenchida manualmente pelos mais nobres sentimentos e, no entanto, eu apenas teclo o nada. Teclo sem sabor, sem esforço, sem vontade. Se eu escrever: tudo é nada, sobressai-se a confirmação do nada. Se eu escrever: nada é tudo, ainda sobressai-se a confirmação do nada. Então compreendi a teoria do nada de Paul Sartre numa síntese momentânea de ócio! Se tudo é nada, para quê então? Viver é inútil? Não quando se ama e se é amado dizem os pares. No amor encontram o sentido em viver, mas isso ainda existe ou o amor tornou-se piegas?
Penso nos meus antigos diários escritos manualmente, diários que joguei fora antes de vir para essa nova cidade achando que estava deixando para trás todo um triste passado rumo à felicidade. Chego à conclusão que de alguma forma tive um bom passado. Talvez na hora da morte ironicamente eu me dê conta de que tive uma boa vida. Agradeço minha capacidade de pensar, mas se eu não pensasse tanto seria eu mais feliz, ora, então repudio ser um ser pensante. Minha cabeça não pára. Encontrarei a solução? Não quero filosofar hoje, minha cabeça dói por pensar tanto e estar com a visão tão limitada. É diferente para quem está dentro dos acontecimentos, portanto tentarei analisar por fora a situação. Equilíbrio e serenidade, por favor, tomam-me, envolvam-me, aprofundem-me? Vem iluminação, vem à falta de prisma no nevoeiro das opções das encruzilhadas que teimam aparecer em meu caminho. Arcar com as consequências das escolhas, tal resumo do que é ser adulto. Só quero tirar de mim tudo o que dói dentro e acabar logo com isso, limpar-me, purificar-me das decepções, das desilusões, do cansaço de sentir.
Abneguei a mim mesma em prol de uma idealização que não realizada fez-me cair em depressão. É horrível admitir estar frágil, mas ultrapassei a linha tênue que separa a melancolia dela. Sinto-me só como um pássaro preso abandonado numa gaiola de ilusões.
Preciso de um animal de estimação, é isso. Embora eu tenha a personalidade de uma sinestésica gata manhosa, é de um cachorro que preciso, pois não quero nada que me despreze no momento! É um bom companheiro, o melhor amigo do homem, inocente, fiel, virá correndo feliz em minha direção quando eu chegar do trabalho em casa e sentir-me-ei amada.
Quando nada mais alivia, a solução mesmo que momentânea é-me escrever o incerto dos passos e dos tempos, mas, por favor, hoje sem devanear? Lembrar para esquecer, amargo remédio e salutar, extraído das mais sublimes flores da alma a recordar... Devaneios, já? Não! Hoje não irei poetizar!
Mas aquelas flores que presenteiam uma mãe na maternidade são as mesmas que enfeitam o repouso final em seu mausoléu. Apenas um par de mãos macias, brancas e perfumadas me confortaria neste momento. Ah mãe, como eu queria tê-la agora comigo... Sinto tanto a sua falta, tanto, tanto... Como escrever sem ser íntima? Como expor meus mais profundos sentimentos sem dizê-los? Como ser agradável mesmo que insinuando minhas piores dores? Um dia serei escritora mãe, um dia saberei descrever o gosto de uma fruta sem dizer-lhe o nome. Um dia, mas hoje só preciso desabar. Sei que posso até procurar todo o mundo para me acalentar, mas o mundo não me compreenderia. Ela sofre, diriam, mas não, não sofro. Ela ama, suporiam, mas não, não amo. Ela espera, acusariam, mas já não espero mais nada, pois sei que não virá. Não sou primordialmente especial, sou somente alguém a se recordar.
Sabe por que amo tanto o teatro? Porque o teatro me surpreende e supera minhas expectativas... Ah como é maravilhoso ser surpreendida, alegrar-se com a maravilha da mágica e do encanto. O mundo é mágico, mas a minha vida é tão chata. Só o é porque eu espero demais do ser humano, sei, anseio demais, aí pouquíssimas ocasiões suprem-me e-me alcançam. Por que tanta insatisfação e tanta intolerância com a normalidade, com o básico, com o vil? Espero sempre muito caráter, espero atitudes nobres e me frustro vivendo num mundo assim. Entretanto odeio assumir o papel de vítima! Não sou vítima de coisa alguma! Nunca! Sou mais é uma complacente que não aceita, mas que não tenta melhorar a realidade. Eis a angústia de ter todas as soluções para transformar esse caos num mundo melhor, mas não pôr em prática por faltar disposição a lidar de frente com o quão vil e (co)vil do ser humano. Mantenho o máximo de distância e só trago para mim os bons de coração, não os mais sábios ou os mais sãos, mas os bons de coração. Uma amiga disse que sou a versão feminina do pequeno príncipe. Acho que não existe alguém tão nobre no mundo quanto o pequeno príncipe, mas alguns pensamentos desse personagem tenho, devo confessar. Não traio os meus valores morais e não faço esforço algum em ter princípios, são inatos, todavia não sou alguém “moralista”. Eu sou moral, mas nunca preconceituosa. Sou uma mulher quadrada, disseram. Socialmente talvez sim, respondi.
Valorizo-me extremamente como mulher, sou uma feminista assídua por natureza, não me submeto ao supro consumo machista. Sou certinha? Direita? Falaram-me: é por isso que você sofre. Fui assim educada, respondi (sua culpa).
Porém penso na possibilidade do talvez. Ser como são? Isso não, mas preciso tornar-me, digamos mais “existencial”, mais realista, descer um pouco do mundo das ideias. O budismo, a literatura, a filosofia, a arte me distancia do natural e não tenho pretensão alguma de tornar-me sublime.
Quero viver, quero sorrir e quero ser feliz!
É segunda-feira e os planos renovam-se. Penso quanto tempo perdi desde a época em que estavas aqui regando suas samambaias e cultivando as rosas no jardim. Penso no que deixei para trás por medo, por receio. Sempre abandonando, sempre fugindo. Meu coração quebrado grita que não fiz o que era certo e começo a entender por que o meu coração chora tanto. Eu nunca escuto o meu coração... Ele pode estar gritando dentro do peito, mas minha razão domina. E, depois fico reclamando da minha vida vazia? Preciso pulsar! Preciso de inspiração para ter motivação a criar, mãe, vê a romântica patética que eu sou? Romântica inveterada que ainda não sabe o que é amar...
Olho para o céu, tantas estrelas. Sabemos que estrelas apagam, simplesmente. Então não tenho pretensão alguma em saber se ainda existes noutro lugar que não sejas dentro do meu coração. Mas assim como a saudade que sinto viva, tenho a ideia de que nada é trivial. Fecho meus olhos e sinto que me entendes... Somente abraça-me se assim puder.
Se tudo é nada, para quê então?

Sua Tatiane Sales

Um comentário:

  1. Olá, gostei de seu blog e desde já quero dar-lhe os parabéns, Sou Antonio Batalha portugues e gostava de lhe fazer um convite: Tenho um blog Peregrino e servo, e se desejar fazer parceria me deixava muito honrado em tê-la como minha amiga virtual, claro que vou retribuir. Obrigado e tudo de bom.

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