sexta-feira, 10 de junho de 2016

O pior dos homens

Tudo começou quando ele foi uma vítima,
Coisa boba, nasceu sem os pais, cresceu na infâmia
Da solidão, pedindo restos de pão e estima...
Só um tropeço no começo da infância.

Só empurravam e o chutavam pelo chão
Das calçadas encharcadas de choro e chuva.
Coisa boba, frio passa todos, diz-me que não?
Qual a diferença se ele usava ou não uma blusa?

A lei, a sorte, o frio e o sol nascem pra todos!
Errado é ele que sem pensar cheirava cola.
Desculpa dava: “que é pra escapar, tio”, que caiam os tolos!
Comigo não cola, fugir da fome? Que vá pra escola!

Nada de esmola, se você dá vai comprar droga.
Superação é inato ao homem, é só querer.
Tenho dó não, se é negro e pobre, que jogue bola!
Ganha milhão e é idolatrado até morrer.

Tem oito anos? Dez talvez? Já faz um tempo...
Que não o vejo chorar em meios aos carros,
Pedindo, tímido, na camiseta alguns remendos,
E nos lábios: “tio, me arruma ao menos uns trocados?”.

Meses atrás o vi na igreja, estava orando...
Algo como: “mundo é duro, alegro não, mundo é escuro”,
Mais tarde tropecei num infante desmaiando,
Tem jeito não, lixo sem fé, é o fim do mundo!

Era o moleque em lágrima e barro, está drogado,
Maldito infante bem no meio do caminho...!
E já estressado e atrasado pro trabalho,
Chutei o vagabundo com sua cruz, coroa e espinho...

Cola e coca não passa a dor, agora é crack,
Mas não é fácil bancar o vício com esmola.
“Não sou playboy, não esquento frio com conhaque”,
A primeira foi a tia crente com a sacola...

Passa a carteira, filha da puta, vou te furar!
Era pra isso que ele andava com uma faca?
Bandido bom é bandido morto, vou te contar!
Mas deixa estar, polícia resolve, só basta uma bala!

Minha profecia estava errada, cá estou eu...
Com uma arma apontada em minha cabeça.
Se me conheço vou reagir. O quê?! Só vejo breu
E o meu sangue cobrindo ele, talvez o aqueça...

Tatiane Sales

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